Republicação de texto meu de 2019
Em muitas oportunidades fomos confrontados com a afirmação de pessoas que viveram durante a ditadura brasileira de 64 a 85 do século vinte, quando elas dizem que, como não eram bandidos ou "terroristas", nunca foram presas e nem torturadas pelo governo da época.
Como enfrentar essa situação de demonstração total de alienação diante dos fatos?
Uma forma de enfrentar essa discussão é através da frase de Rosa de Luxemburgo, que diz: "quem não se movimenta, não percebe as correntes que o aprisionam."
Uma segunda forma seria a metáfora do livro de Saramago, "Ensaio sobre a Cegueira", onde os cidadãos ficam cegos ao que acontece em seu mundo, muitas vezes por escolha, falta de interesse por outras pessoas, ou seja, insensibilidade social.
É o básico. Como viviam todos em suas residências "com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando a morte chegar", para citar também Raul Seixas, nada lhes incomodava. Nem mesmo o sofrimento de quem ousava pensar ou agir. Esses eram os perseguidos. Esses sofreram as dores provocadas pelas correntes do pensamento fechado daqueles dias.
Para se comprovar isso, basta ver o número dos que morreram ou foram torturados e daqueles que desapareceram.
E, caso você analise, concluirá que todos esses eram pessoas que poderiam facilmente ser chamadas de "cidadãos de bem". Para a maioria delas, nunca foi necessária nenhuma ação extraordinária, senão a publicização de seus pensamentos.
O enclausuramento de si mesmo, além de garantir uma segurança ilusória, também aliena a ponto de fazer com que a pessoa não veja o furacão que envolve a sua vida, do qual ela fica protegida graças aos olhos fechados.
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