Coletivo Instrumento de Ver - Correio Elegante - Carta XV

Uma carta fora do tempo, um tempo fora da curva, uma curva sinuosa em terreno perigoso, o último aceno do ano (tá vendo a gente aqui?)   Salve salve a todos... não é que chegamos no mês de dezembro? Esse momento que mistura tudo, tipo caldeirão de bruxa: um pouco de esperança, angústia consumista, espiritualidade, festividade, comilanças, santo, orixá, meditação, música, oração, superstição, família, mandinga, bebedeira e por aí vai…   Você já fez a lista de desejos para o ano que vem? Já pensou como é o mundo que você quer viver? Nele tem beijo, abraço, aperto de mão? Tem encontros, festejos, rituais, celebrações? Tem artistas? Tem espetáculos? Tem espaços culturais? Tem música? Tem circo? Tem dança? Tem teatro?   Nós, por aqui, estamos bem familiarizadas com o balaio de gatos, um dia-a-dia cheio de assuntos diferentes e todos, sempre, importantes. Sentimos como se não tivéssemos conseguido criar muita poesia esse ano, já que estivemos ocupadas tentando não deixar o navio-galpoa afundar. Nos rebolamos para administrar o teto que nos dá abrigo e acolhe os nossos sonhos, que não são só nossos… é bem mais que isso na verdade. Fizemos malabarismo com as planilhas, contorção para nos adaptar, repetimos, erramos, exercitamos nossa paciência, nos multiplicamos em centenas, mas com os olhos grandes para o horizonte, ávidas por um mundo novo. Nós estamos agora vislumbrando o futuro.   Antes éramos grandes, muitas e muitos, inventávamos cenas e os olhos curiosos do público validavam nossos trabalhos. As pontes eram várias e tínhamos um lugar no mundo.   No tempo presente, estamos em banho-maria, cozinhando lentamente as ideias, esperando os sinais, costurando as possibilidades e aguardando as vacinas para elevarmos o fogaréu. Fica, vai ter bolo.   No futuro, iremos desbravar novas terras, levar nossos trejeitos latinos e o requebrado tropical para recarregar nossas esperanças e desfrutar o conforto de criar, com amparo e credibilidade. No futuro teremos um espetáculo novo, um circo de fragmentos onde a diversidade e a persistência são protagonistas.

A galpoa, nosso xodó, a qual lutamos com unhas, dentes e os cabelos em pé, também nos manteve juntas, vivas e vibrantes durante esse buraco no tempo chamado pandemia. Ela vai completar 3 anos de existência, em março de 2021. Nesse momento estamos aqui, em um misto de medo de não conseguirmos dar continuidade a esse projeto tão importante para a produção cultural de Brasília e com uma alegria imensa de ver o nosso financiamento recorrente engordando pouco a pouco. O futuro está embaçado, mas as conexões e os apoios são um sopro nesse nevoeiro. Imprescindíveis!

Vamos falar de coisa boa? Para encerrar esse ano duro com pequenas alegrias, queremos trazer algumas boas novas: Ficamos paradas?   Não, nesse mês a Julia ministrou um minicurso online chamado “Desenhando poéticas circenses no plural”, a convite do Porto Iracema, do Centro Cultural Dragão do Mar, em Fortaleza. O curso foi um convite a traçar caminhos para a criação de espetáculos de circo. Foram 17 artistas criadores pensando juntes sobre a variedade de procedimentos criativos, olhar para as suas criações por outros ângulos e rascunhar possibilidades de dramaturgias circenses no plural. Proporcionou dinâmicas práticas de diálogo e exercícios, partindo das experiências de criação dos participantes. O objetivo do curso foi dialogar sobre a diversidade e sobre a pluralidade do circo nos seus próprios métodos de criação. O minicurso teve uma fala de abertura que ainda está disponível aqui neste link da Julia, mediada pelo Edmar Cândido, do Grupo Fuzuê, de Fortaleza. Eles falaram um pouco sobre as voltas, vôos e contorções das ideias que a Julia andou pesquisando na sua itinerância entre o picadeiro, a academia e a sala de ensaio. Um momento para provocar um pouco o pensamento sobre o que pode ser arte essa tão diversa e malemolente.    Estão rolando aulas particulares para pequeníssimo grupos na galpoa?   Sim! Seguindo um protocolo bem rigoroso para minimizar os riscos, já retornamos algumas atividades de solo e aéreas. A Allana está com turma bem reduzida de acrobacias aéreas às sextas-feiras, 19h, tá sabendo? Tem novidade para janeiro? Tem demais! A Bela vai abrir duas turmas no projeto Circo de Verão. Terão aulas para adolescentes e adultos. E como não podia ser diferente, serão pequenos grupos. Você também tem um adolescente precisando sair um pouco das telas? Conta pra gente ;-)

Já pensou em treinar com a Bia?  Ela está abrindo uma nova atividade chamada in.corpor.ar, com aulas presenciais, individuais ou em duplas, de preparação do corpo para o que der e vier. Que tal? Se você tem interesse em participar, escreva pra gente. Pode ser por instagram, facebook, whatsapp ou por aqui mesmo.   Pode treinar na galpoa?   Claro! Vem pra cá! Estamos de portas abertas para treinos individuais e pequenos grupos, alugando o espaço por hora. Temos pacotes de variados tamanhos. Quer saber mais? Chama a gente ;-)   Tem gente nova ocupando a galpoa?   Nova e talentosa! É um belo privilégio ter a Yara Maya embelezando a galpoa. Tem espaço pra mais gente, viu? Se você também está precisando de um cantinho pra criar e trabalhar, aqui é o lugar.   E o financiamento recorrente?  Cada dia melhor! Já chegamos em 57% da meta, com 26 apoiadoras e apoiadores. Não poderíamos estar mais gratas por cada uma dessas pessoas. É incrível ver a força da coletividade, ainda falta um bocado, mas vamos chegar lá! Ainda precisamos de ajuda. É bem fácil, só entrar em benfeitoria.com/galpoaviva para conhecer melhor a nossa proposta. Tem cotas para todos os tamanhos de bolsos, qualquer valor ajuda muito! Ainda não atingimos a meta, não conseguiremos celebrar em alto e bom som, mas temos um mimo para vocês que estão acreditando na gente: faremos um sorteio deste vasinho criado pela Gaia Diniz entre os assinantes no dia 7 de janeiro. Não é uma graça?

Acabou a novidade?   Não, deixamos essa para o final. É que estamos muito animadas em anunciar que estamos abrindo as portas da galpoa para ocupação/residência durante o mês de janeiro de 2021. A ideia é abraçar uma proposta e disponibilizar o nosso espaço para ela ser executada. Não vamos cobrar pela pauta, a nossa ideia é outra: queremos movimentar a roda da economia alternativa e criativa, estamos procurando trocas sinceras de afeto e parceria. Para além do dinheiro que se faz necessário para que a galpoa se sustente, lembramos que ela é um espaço para gestar e realizar sonhos. Não só os nossos, mas, também, de outros colegas artistas da cidade. Nosso tablado tem 9m x 13m, em madeira, linóleo e conta com um pé direito de 7m. Temos caixa de som, colchões, tatames, pontos de ancoragens para aéreos, internet, bebedouro, banheiros, chuveiro, copa e reservamos um pequeno espaço para o armazenamento do seu material. Se você ou seu grupo está precisando de um espaço e se interessou nesse chamado, preencha aqui a sua proposta (não se acanhe, estamos abertas a todas as ideias). Iremos estudar com carinho para chegar no melhor formato para todos nós.

Se você tem interesse em participar de qualquer atividade da galpoa, escreva pra gente. Valem todos os meios de comunicação. Foi um percurso longo e intenso chegar até aqui, agradecemos a todos os retornos, os carinhos, os depósitos, as transferências, os comentários, as curtidas e, até mesmo, os pensamentos positivos. Sem vocês aí do outro lado, formando uma plateia para esse nosso picadeiro improvisado, nada disso faria sentido.   Que 2021 venha com mais carinho!   Todos sãos e salvos.   Saúde.   Axé.   <3