Terminamos na última segunda feira uma luta que durou mais de dois anos. Nossa gatinha, Futrica, perdeu a batalha contra o câncer.
Morávamos em um apartamento, quando minha filha e minha esposa chegaram com uma caixa de papelão e um par de orelhas siamesas dentro. Sim, as orelhas se destacavam do restante da gata. Filhote e magra. Ela sempre preferiu suas caixas de papelão a todas as caminhas que minha filha comprou para ela.
Adotou-nos e tomou conta da casa, como é costume. Nosso cachorro, Toddy (devido a sua cor de café com leite quando o compramos), perdeu rapidamente o posto de "alfa". A casa tinha uma rainha. E ela só deixou este posto na última segunda feira.
Há cerca de dois anos, apareceram os primeiros tumores. Nossa suspeita é de que tenham sido ocasionados por injeções contra o cio (duas). Não sabíamos exatamente o que elas poderiam provocar e permitimos que um veterinário as aplicasse. Depois nós a castramos, mas aguentamos por um bom tempo os seus gritos nos cios posteriores*, sem arriscarmos mais as temidas injeções. Não resolveu e a doença veio. Pode não ter sido por isso, mas fica sempre a suspeita.
Foram várias cirurgias, com seus altos custos e recuperações sofridas para ela. Por fim, resolvemos procurar outra clínica, uma vez que aquela onde ela era tratada nos falhou em um momento importante. Na outra clínica, depois de exames, as veterinárias concluíram que não havia como fazer nova cirurgia e que deveríamos aplicar mais uma quimioterapia, mas antes era necessário outros exames para ver se a situação dela permitiria. Nesse intervalo ela apresentou dificuldade de respirar. Ficou apática e com a respiração curta. No dia três último, tivemos que levá-la de emergência à clínica. A veterinária extraiu uma grande quantidade de líquido que se encontrava entre o coração e o pulmão e que pressionava esse último, dificultando a respiração.
Dessa vez ela só resistiu ao domingo e na segunda feira já estava com dificuldades respiratórias novamente. Era um momento crucial e minha filha, que já sofria muito desde o início dessa luta, estava desconsolada. A veterinária, após retirar incríveis quatrocentos mililitros de líquido, nos informou que ela voltou da sedação, mas não resistiu muito mais.
Choro, tristeza e alívio por saber que ela estava livre. Os seres amados não devem sofrer devido ao nosso egoísmo.
Estamos naquela ressaca de longos dias de luta e sofrimento. Após perceber que a respiração dela estava ruim novamente, a segunda feira foi um dos dias mais complicados da minha vida. Minha ansiedade estava alta. Tomei quatro gotas de floral para ansiedade e fui passando o dia. Esperando que ela reagisse. Ela não comia bem já há várias semanas. Naquele dia comeu um pouco de presunto (eu sei que gatos não devem comer presunto, mas era a única coisa que ela estava aceitando) e menos ainda de frango.
No final do dia, fiquei uma hora sentado ao lado dela, fazendo carinhos, sentindo a respiração, enquanto esperava minha filha chegar para que a levássemos à clínica. Foi difícil para mim, mas incrivelmente pior para ela, que não conseguia respirar direito.
Nos despedimos da Futrica e ficam as lembranças, a sua personalidade única e uma saudade profunda.
*Em um desses cios, já morando em nossa casa, nos aparece na porta um gato que veio responder aos chamados dela. Não o deixamos entrar em casa, mas ele se aninhou em nossa garagem e só saiu após sua morte. Também nos adotou, abandonando sua antiga casa no outro lado da rua. A antiga tutora pareceu não se importar, mas nós o amamos muito durante esse tempo.
É doloroso ver nossos queridos amigos partirem. Ficamos impotentes e nos sentimos terrivelmente frustrados por não poder fazer nada. Ficam as memórias dos bons tempos que passamos com eles.
ResponderExcluirVerdade,amiga! E ela sempre estará aqui conosco.
ExcluirFutrica agora se transforma em energia cósmica e está entre nós.
ResponderExcluirSeu texto tocou-me, profundamente.
Concordo com Ariano Suassuna: "Os animais são criaturas de Deus".
Sim, Lucinete. Não creio que possa haver um céu sem os animais.
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