De quem é a bola, juiz? É nossa - O jogo "democrático" - Forte Cultural

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quinta-feira, 30 de julho de 2020

De quem é a bola, juiz? É nossa - O jogo "democrático"

EdiSilva
Quando você aceita participar de um jogo, caso você esteja bem intencionado, você aceita o conjunto de regras que gerem aquele esporte. Tomemos o futebol como exemplo.
Existe um conjunto de regras que visam garantir que o jogo seja justo para todos os participantes (estou partindo da teoria e não da prática). Cada adversário cria a sua equipe e a coloca em campo e o que definirá o vencedor será a capacidade esportiva e organizacional das equipes. Novamente, a teoria. 

E você entende que todos vão respeitar estas regras. Este entendimento é baseado em uma crença, a de que todos desejem o bem do esporte e do seu desenvolvimento dentro das regras. Mas é esta a realidade?

Quando você aceita participar do jogo democrático, também acredita que todos os participantes deste jogo vão aceitar as regras em todos os sentidos, estejam perdendo ou ganhando.

Mas não é o que vemos. Em todos os momentos históricos nos quais o poder foi tirado, mesmo que minimamente, das mãos do Estado capitalista, do poder por trás do poder, as regras do jogo foram desrespeitadas. 

Os golpes

Isto aconteceu com Vargas, na década de cinquenta, quando todo o poder à disposição do Estado paralelo foi colocado para impedir que ele  governasse, até levá-lo ao suicídio (sim, eu sei que há dúvidas sobre o suicídio, assim como fatos acontecidos em vários outros momentos brasileiros). Naquele momento o Estado paralelo não conseguiu reunir forças suficientes para o golpe clássico militar. Houve a continuidade quase normal, até a eleição de JK. Este não era o sabor favorito da grande imprensa e nem do Estado profundo, mas também não afrontava o sistema, podendo ser perfeitamente tolerado naquele momento, até mesmo devido ao enfraquecimento da vertente golpista pós Vargas.

Depois houve a eleição de um salvador da pátria e caçador de corruptos. Veio com sua vassoura para varrer a corrupção do país. A classe média, como nossa história mostra, adora este tipo de candidato. Mais um momento que entrou para o folclore político brasileiro, o primeiro cavaleiro branco da classe média que fracassa. No lugar dele fica João Goulart, o vice. Mas somente depois de muita resistência do sistema contra ele, que, apesar de ser um "bem nascido", tinha ideias que o real poder considerava "inapropriadas". Fizeram arranjos, até que ele acabou como presidente. 

A máquina golpista (incentivada pelo governo Kennedy, democrata, dos EUA) entra novamente em ação contra o monstro "comunista". Mais uma vez a cavalo da imprensa, que pertence ao poder paralelo, ao mesmo tempo que tem a função importantíssima de trazer informação ao povo. Parece e é contraditório. Para apoiar o combate ao comunismo que, na versão deles, estava a ponto de dar um golpe à soviética no Brasil, veio também o combate à corrupção, novamente.

Deram o golpe, ficaram vinte anos no poder e a imprensa crescendo á sua sombra e vendendo seu apoio. Mesmo que alguns órgãos tenham, quase, mostrado arrependimento ao apoio dado à ditadura assassina, a máquina da globo cresceu nesta sombra e se tornou a maior empresa de imprensa e de comunicação do país,com capacidade de influenciar governos amigos e derrubar os inimigos. A tv de Sílvio Santos só foi possível com o apoio dos militares. Este canal mostrava todo domingo o que ele denominou de "a semana do presidente" , onde João Figueiredo, o militar de plantão na presidência naquele momento, desfilava como o grande líder brasileiro.

Com muita luta e enfrentando o desejo da globo, veio o fim do governo militar. Eu escrevi em outras épocas que eles foram tão efetivos na construção do Estado capitalista na cabeça do povo, que o primeiro presidente eleito veio do seio militar e da direita, como se fosse uma novidade. Ele também veio com o chicote da anti corrupção, cavalgando novamente o cavalo branco e sendo guiado pela globo. Isto é história.

A democracia capitalista

Ou seja, tivemos os governos capitalistas de JK, os vinte anos de militares, Sarney, Collor e oito anos de FHC. Cada um aprofundando mais o capitalismo e adotando o neoliberalismo de Thatcher e Reagan, entregando a propriedade do Estado para as empresas, principalmente estrangeiras. 

Tudo isso com todo o apoio da imprensa, pois estavam conduzindo o jogo aprovado por ela. Sem problema, todo mundo democrata, inclusive os militares.

Este jogo da imprensa é tão bem feito que temos esquerdistas que a defendem. Tivemos Dilma na tela da globo fazendo comida. Esteve lá e não viu a cauda do escorpião.

A imprensa não se importa que se entregue os bens brasileiros. Isto não é crime. A compra de votos de FHC para criar a reeleição nunca foi considerada criminosa pela imprensa que é tão combativa contra a corrupção. A "venda" ou doação das empresas brasileiras, arduamente construídas com os impostos do povo, para a chamada iniciativa privada, com negócios altamente discutíveis, nunca foi colocada em dúvida pela mesma imprensa. Várias acusações de ilegalidades que nunca incomodaram. Nunca mereceram notinhas em jornais capitalistas, e menos ainda, manchetes. Daí concluímos que existem dois tipos de corrupção no país: a boa, que visa cumprir os desejos do poder paralelo e a ruim, mesmo que boa parte dela inventada pelos lavajatistas que sempre foram um braço da mídia, que é contra os inimigos deste mesmo poder.

Novamente, vendo que não conseguiriam por vias normais, aprovadas por eles, derrotar os governos de esquerda, partiram para a arma de sempre: mudar as regras do jogo. Se não conseguem vencer o jogo pelas regras aprovadas por eles, elas deixam de valer. Eles não aceitam mais os regramentos que serviram para eles. E novamente pela via do combate à corrupção.

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Logo, o jogo democrático só serve se estiver a favor do poder real. Somos todos a favor da democracia. Qual? A nossa. E a democracia entendida pela metrópole, EUA, nunca foi diferente. Os países amigos são todos democráticos e os inimigos são todos governados por ditadores.

E aí vem o Lula e seu PT, macular o bom caminho seguido pelo país, apesar da economia no buraco naquele 2002 e dos bens da nação cada vez mais dilapidados. O pouco dinheiro das privatizações que serviriam para pagar as dívidas do país, ninguém sabe para onde foi. E as dívidas aumentaram sob FHC,o queridinho.

As esquerdas nunca conseguirão governar se continuarem aceitando as regras do inimigo. Se continuarem acreditando que o adversário vai aceitar as regras do jogo caso percam. As esquerdas precisam entender que não há garantias em um jogo contra um adversário trapaceiro e que detém a força real, o poder real. Sem combater este inimigo, não existe jogo justo.

As esquerdas estiveram no governo, mas o poder continuou nas mãos dos de sempre, do Estado profundo, aquele que não vemos, mas que decide nosso destino e que traz em sua coleira a justiça, a maioria dos parlamentares e a força armada militar.


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