Coletivo Instrumento de Ver - Correio Elegante - Carta VII - Forte Cultural

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sábado, 16 de maio de 2020

Coletivo Instrumento de Ver - Correio Elegante - Carta VII


Alô?

 

Você tá escutando? Travou… Sim, pode falar. Repete? 

 

Oi! Você tá aí? Não tô te vendo mas tô te escutando…Você tá me vendo?

 

Você tá me vendo aqui, em casa, falando com as plantas, brigando mentalmente com o vizinho, esbarrando nos móveis? Fiz um almoço delicioso hoje, só eu comi, tava tão bom… Acordei linda ontem, não teve testemunha, tava tudo pixelado na tela. Bebi sozinha e acabei dormindo cedo demais. Desimportâncias importantes. Fechei a porta antes de dormir. Final do dia chorei os mortos, todo dia choro um pouco, carrego eles comigo para ter peso e força. Acendo velas, crio rituais, haja mandinga para tanta contramão…  


Tem alguém aí? Aqui tem, tá cheio, barulho em todos os cômodos, gritos, choros, música, balbucios e risadas exageradas. Alguém caiu na cozinha, corro pra sala, meu corpo se espalha pelos cômodos. Me distraí da hora do almoço, queria fechar a porta, alguém fecha por favor? Não tô escutando direito... Não tem mais eu. O que você falou? Tinha um barulho aqui... Deixa pra lá..

 

Essa ideia de habitar dentro de casa, morando nela o tempo todo, é um baita pleonasmo, e tem pedido novos cuidados, olhar pro espaço de dentro. É transformação atrás de mudança, na tentativa de atravessar a mais um dia, mais uma semana. Ufa! Mais uma se foi! O tempo passa e eu vejo novas linhas aparecendo. Haja expressão para tanto sentimento. A sensação é de ser uma montanha-russa de emoções, de sentir a natureza, a cidade, os outros, o lá fora reverberando no avesso do corpo. Seja gentil com você mesma! Tenho repetido isso todos os dias.

 

Uma coisa é certa: ninguém vai sair igual depois disso tudo. Se sair, é porque não entendeu nada. Ao que parece estamos mudando de fase enquanto seres humanos e, talvez, console acreditar que uma parte desses sentimentos é luto por esse mundo de antes. Simbolizar, dar sentidos, ressignificar. É por isso que estou lá toda quarta-feira, embalando o grupo de leitura - pra olhar de frente para as palavras e brincar de colocar frases em ideias. 


Nessa semana passada, o texto que nos prendeu foi “Estávamos prestes a fazer uma revolução feminista… e então chegou o vírus.”, de Paul B Preciado. Vamos manter a linha do pensamento e acrescentar a leitura do texto "Repensando o apocalipse: um manifesto anti-futurista indígena, de Indigenous Action, além de outros que foram sendo recomendados. Tá um grupo legal. A gente tá lendo, olhando pra frente mas, principalmente, olhando pra trás. Afinal, outros fins de mundo já passaram por aqui. Para participar, é só mandar um e-mail para receber os textos e o link do zoom. O próximo encontro vai ser na quarta, dia 20 de maio,  às 14h.

Sigo inventando novas habilidades, mas a principal delas, por ora, talvez seja a de estar aqui, agora, e aceitar cada vez mais a desaceleração. Mudar o tempo. Aceitar sem me conformar. Porque tá tudo errado, né? Temos um mundo inteiro pra fazer diferente. Claro que muitas vezes o equilíbrio vai embora e podemos pensar em formas de viver essa realidade paralela, buscando um outro olhar.





Dia desses, noite dessas, o João fotografou janelas. Nossas casas. As fotos estão na exposição virtual desse ensaio realizado em plena pandemia, com todos os cuidados, claro, muitos metros de distância e curiosidade dos vizinhos. Eis que inauguramos uma nova hashtag, uma bandeira no planeta internet, quem vem?  Vem também, tá tudo explicadinho, tem um guia lá no site. 
 

Tô querendo chamar a sua atenção. Querendo gritar sussurrando pra tentar te alcançar. Quero atravessar essa tela fria e chegar na sua casa, escutar o que tá passando aí na sua cabeça, sentir a sua temperatura, o pulsar do seu coração. Tá sentindo o meu?
 

Nesta comunicação cheia de interferências, desconexões e perda de sinal, olhar nos olhos e andar de mãos dadas é luxo. Tem rolado rifa toda semana com produtos feitos por pessoas que gostam do olho a olho, de segurar na mão, abraçar forte. Nessa semana é uma linda foto do João impressa em fine art para decorar a casa e deixar os dias mais leves. Ainda tem 4 números da sorte, se você correr ainda dá tempo. Na próxima semana vai ter um mês de aula de yoga com a Sarah Dorneles. Se interessou? Manda uma mensagem que te conto mais. 

 

Por falar em aula, os treinos da Bela continuam a todo vapor, às terças e quintas, das 8h30 às 9h30, pelo zoom. Tem uma galerinha fazendo, mas tem uma outra galerinha participando da maneira que consegue, afinal, quem aí tá com uma proposta de rotina nova a cada semana? Ninguém precisa se cobrar o mesmo engajamento de sempre. Se você sentir vontade de mexer o corpo, ou começar o dia de um jeito diferente, separa um cantinho da sua casa e aparece lá no treininho, clica aqui para acessar.

 

Apesar desse momento de urgências, continuamos pensando em circo, fazendo circo, falando de circo, não tem jeito. O cine circo é isso. Circo a partir do vídeo. Porque circo sem presença não é a mesma coisa, né, vamos combinar. É outra coisa. Mas é legal também. Esse mês está sendo com convidados muito incríveis que curtem essa conexão entre artes circenses e audiovisual. Dessa vez o mineiro radicado na Finlândia, Luis Sartori do Vale, vai falar sobre o que a gente mais gosta de falar - circo. O Luis é formado em circo e artes visuais. Foi um dos fundadores da cia Nuua. Foi premiado no Circus Next e no Festival Mundial do Cirque de Demain com LENTO. Atualmente, está em turnê internacional com PENDULUM, DOIS e PORTMANTEAU, o qual foi recentemente premiado na Finlândia pela Circusinfo. Já se apresentou em mais de 25 países. Quando não está performando, desenvolve projetos de artes visuais, que misturam ilustração, vídeo e animação.

 

Antes da conversa você pode assistir aos dois espetáculos que ele colocou disponíveis em linha neste período de confinamento:


DOIS
com Luís Sartori do Vale e Pedro Sartori do Vale



ASSISTA

Foto: Andre Baumecker


LENTO
com cia Nuua
 
 

Te esperamos amanhã, sábado às 17haqui no zoom, pra conversar um pouco desses dois espetáculos e assistirmos juntos o curta inédito OMI, que vai ser transmitido ao vivo, projeto da artista finlandesa Mira Ravald no qual o Luís fez a cinematografia. A Mira também vai estar presente. 

Mira Ravald é uma artista sediada em Helsinki, na Finlândia. Graduada como artista circense ela é funâmbula com uma forte abordagem no movimento e da dança. Esse vídeo que vamos assistir amanhã é uma ode à àgua numa fina superfície de arame. Inspirado nas mitologias das divindades da água, o curta OMI é uma mistura de dança e circo, que combina elementos do folclore afro-cubano e finlandês.

Trago uma boa notícia nessa carta. A Rede Circo Brasília, que é para onde é destinada parte das arrecadações, vai fazer a sua primeira ação amanhã! Juntos, decidimos doar cestas nada básicas para 4 circos de lona que estão com as atividades suspensas, instalados aqui no DF: o Circo Vitória, que está no Guará, o Circo Dubai que está lá no Areal, o Circo Real Português em Taguatinga e o Circo di México, em Sobradinho. Nesses circos moram muitas famílias passando por situações emergenciais, muito por conta da precariedade que é a política cultural nesse momento. Serão distribuídas 24 cestas nada básicas com itens de alimentação e higiene, pães e bolos artesanais, orgânicos, uma ajuda de custo em dinheiro e muito amor. Ficamos felizes de, junto com todo mundo que já contribuiu com as nossas ações, poder colaborar com essa grande família que é o circo. Já estamos mirabolando novos planos e buscando formas de ampliar essas ações. Além do Instrumento de Ver, integram a Rede Circo Brasília hoje: Espaço Pé Direito, Espaço Levitare, Espaço Penduricália, Tallyta Torres, Julia Giesbrecht, Lucas Lírio e a Luíza Adjuto. Quem quiser colar, pode vir, a nossa ideia é fazer girar a roda.
 

Continuem aqui nessa empreitada! Cada um fazendo sua parte e colaborando da melhor forma possível.

BANCO 260 NU PAGAMENTOS SA

INSTRUMENTO DE VER

AGÊNCIA 0001 . CONTA 78926220-7

CNPJ: 30.478.794/0001-64

 

BANCO DO BRASIL 001

JULIA HENNING CAMPOS

AGÊNCIA 3603-X . CONTA POUPANÇA VAR.96 14422-3

CPF: 348.530.731-91

 

25% das arrecadações vão para o fundo Rede Circo Brasília, esse fundo de assistência a artistas circenses em situação de vulnerabilidade social e emergências. Para saber mais, acompanhe @circobsb. O restante é direcionado para a manutenção e sobrevivência do Galpão Instrumento de Ver.

Apesar do chiado ainda to aqui, aumentei o volume pra te ouvir melhor. Preciso do seu olhar pra continuar existindo, não desliga!
 

Quem sou eu? Uma de nós, um pouco de todas, cada uma. Importa ser uma quando o que é de fora vai crescendo e invadindo as nossas janelas? Tá me vendo ocupar todos os cômodos, mal cabendo em casa? Tá escutando a panela de pressão? 


Eu tô te ouvindo, pode falar!


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Um comentário:

  1. Texto interessante. A arte pulsa e há pessoas em cuja veia pulsa o sangue do irmão, que insiste em respirar e em ser oxigênio sobre a Terra.
    Somos parceiros. Vamos colaborar.

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