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Os Inimigos |
O que há de melhor em são meus inimigos.
A partir do texto "Geopolítica da pandemia: "A verdade é que hoje o Brasil é um pária internacional", diz especialista em saúde global", recém publicado pelo Forte Cultural e principalmente da resposta dada pela entrevista nestes trecho, faço a ressalva abaixo:
"Como os comentários do ministro da Educação e de Eduardo Bolsonaro, bem como a onda de fake news em relação à criação do vírus em laboratório na China, afetam a relação do Brasil com o país? A tentativa de intermediação de Jair Bolsonaro é suficiente para preservar as relações entre os países?
Os movimentos extremistas estruturam sua ação política na construção de adversários, a partir de raciocínios e conjuntos de ideias simplórios, de fácil assimilação, de maneira a ocultar a complexidade das situações políticas, econômicas e sociais. Então, a complexidade dessa situação e a complexidade das relações internacionais são incompatíveis com o modus operandi dos movimentos extremistas. Nós já os conhecemos há muito tempo, eles marcaram o século 20, em particular com o nazismo, o fascismo, o stalinismo. Então, essas construções de adversários são constitutivas dos movimentos de extrema direita, e, quando essa construção é feita em torno de uma figura estrangeira, no caso da China, que tem uma cultura muito diferente da nossa, tende a ser extremamente eficaz."
Esse é um ponto onde eu acrescentaria também as posições dos Estados Unidos ao longo do século XX. A necessidade de criação de um inimigo para manter o patriotismo de seus cidadãos sempre ligado é característica daquele país há muito tempo.
Ao final da segunda guerra mundial, eles perceberam como a união do país em torno de um inimigo tinha sido benéfico para a economia e engatilharam o comunismo como sua nova nêmesis. Sustentou esse inimigo por décadas, passando pelas guerras da Coréia e do Vietnam, as duas contra o comunismo, ao mesmo tempo que alimentava a guerra fria contra o maior símbolo desse sistema político: a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Quando caiu o muro e os sistemas comunistas foram juntos, com a ajuda de Gorbachev, já estava pronto o novo inimigo: os países muçulmanos, a quais já acusavam de terrorismo desde os anos oitenta. E esses, com a inclusão da Venezuela, de Cuba e da Coréia do Norte, continuam sendo o inimigo maior, destacando-se entre os islâmicos, o Irã, que, entre outras acusações, pretendem acabar com o "a forma de ser dos norte americano". Incluem-se também as acusações de sereminimigos da "democracia", pelo menos como esta é entendida pelo grande irmão do norte, e a tão propalada "liberdade", mesmo que paramantê-la a população dos EUA necessite aceitar perder, contraditoriamente, um pouco da sua liberdade real.
E já escalaram a China para quando os islâmicos não servirem mais.
Outro detalhe que considero importante é que nosso ponto de vista, nossa perspectiva histórica ao longo da segunda metade do século XX e este início de século XXI, sempre nos vem a partir da visão, da política e da ideologia norte americanas. Toda a História nos tem sido contada pela imprensa ou agências de notícias, senão pertencentes aos Estados Unidos, pelo menos alinhadas à política deles. Digo isso para tentar introduzir um questionamento sobre esse assunto: nós não conhecemos a Coréia do Norte, assim como não conhecemos a URSS, os países islâmicos e mesmo nossas vizinhas Venezuela e Cuba. Todo o noticiário que nos chega passa pelo filtro das mesmas agências de notícias, da mesma imprensa, contando com a adesão acrítica dos grandes jornais, telejornais e revistas brasileiras, que ainda são os que nos contam a História.
EUA é o primeiro país que aplica Orwell em sua dinâmica de governo para manutenção do patriotismo de seu povo e do relacionamento com outras nações.
Guerra é Paz! "Naquele momento, por exemplo, em 1984 (se é que estavam em 1984), a Oceânia estava em guerra com a Eurásia e era aliada da Lestásia. Nunca, em nenhuma declaração pública ou privada, era admitido que as três potências alguma vez tivessem se agrupado de modo diferente. Na verdade, como Winston sabia muito bem, há não mais de quatro anos a Oceânia estava em guerra com a Lestásia e em aliança com a Eurásia." - 1984 - George Orwell
Com relação aos países islâmicos, ainda temos um problema maior que a ideologia política: a questão religiosa. A tradição cristã ocidental usa também essa arma para demonizar em todas as frentes aqueles países. Tudo o que sabemos deles é que são "terroristas". E são países que contribuíram em muito com as ciências e a cultura ocidentais. Enquanto o ocidente passava pela obscura Idade Média, quem preservava e desenvolvia as ciências eram os muçulmanos. A maioria dos ocidentais não conhece esta importante contribuição.
Toda essa História também recebe a inestimável ajuda da cultura norte americana que envolve o ocidente em seus braços. E no cinema e televisão daquele país todos os inimigos deles são caricaturados, transformados na cara única do mal. Recentemente já podemos ver a Venezuela aparecer em séries e filmes com essa caracterização.
Nesse sentido, precisamos nos libertar desta visão única.
Já possuímos alguns meios para isso. Eu conheço uma série de jornais e agências alternativas, os quais procuro replicar aqui no Forte Cultural. Mas a acomodação natural do povo em geral faz com que não se busque e nem se aceite alternativas, ficando sempre com o discurso fácil e já parcialmente digerido pela nossa imprensa.
Tivemos o caso recente da Lava Jato, cuja história toda foi contada pela grande imprensa e apesar de termos brigado tanto no sentido de que havia outra versão, ninguém deu crédito. O Jornal Nacional era mais confortável, com os seus tubos de esgoto pelos quais fluíam dinheiro sempre que se falava de Lula e do PT.
E veio a "Farsa Jato" do Intercept e agora a operação spoofing, juntamente com, finalmente, a liberação das conversas para a defesa do ex-presidente. Nada era novidade para quem buscava outras versões. Nenhum de nós se assustou. Apenas constatamos o que já era conhecido.
Nós temos um país para levantar a partir dos escombros nos quais foi jogado pelo golpe e pelo fascismo, mas ainda teremos que esperar que o locatário atual do Palácio do Planalto seja defenestrado pela História e torcermos para que o mesmo povo que o elegeu não entregue o que resta para tucanos (dorias e outros), amoedos, hucks e outros que tais, os quais podem até criticar o presidente, mas concordam com sua política e principalmente com a forma de condução da economia, a qual, além de entregar todos os bens do povo brasileiro a preço de banana para empresas privadas, ainda mantém o povo na pior crise econômica dos últimos 18 anos.
Parte desse texto foi publicado em meu blog anterior e atualizado agora.
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