Coronavírus na África e as notícias falsas - Forte Cultural

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segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Coronavírus na África e as notícias falsas

 

EdiSilva

Dentre as armadilhas que recebemos todos os dias via os diversos caminhos da internet (Whatsapp, facebook, twitter etc), recebi um texto que falava sobre a "baixa incidência do coronavírus na África".

Mais uma daquelas mentiras que ficam circulando e cada um compartilha com seus companheiros de rede, nos grupos da família e vai virando verdade, pois quase ninguém para para ler e, menos ainda, para pesquisar o que está sendo afirmado. E é com base nessa falta de coragem para ler e para investigar origem, se é factível e se o assunto procede que as fake news se proliferam.

Um detalhe importante: o texto foi compartilhado em um grupo de esquerda do whats app. Sempre aparece algum desinformado ou infiltrado para espalhar essas coisas.

Como costumo fazer, fui á internet. 

O texto dizia que era um estudo da Universidade John Hopkins (EUA), publicado em 17/12/2020. 

Ficou muito fácil verificar a fonte. Acessei o site da universidade, e aí vem outro ponto que facilita a aceitação da mentira, o site é em inglês. Se a maioria não lê o que vem em português, imagina se tiver que gastar os rudimentos de inglês que recebemos na escola!

Pesquisei e nada falava sobre isso. 

Fui ao novo pai dos burros (de diversas formas), o google e pesquisei qualquer menção ao assunto. Só encontrei referências de páginas bolsonARIANAS no facebook. Mal sinal. Voltei ao grupo onde haviam compartilhado o texto e escrevi (o texto trazia junto um quadro que relaciona países e a respectiva quantidade de mortos):

Procurei na internet e só achei referência sobre isso em facebook ou site bolsonARIANO. Procurei na John Hopkins e também não encontrei nada. 

Mas vejamos algumas informações: 

O primeiro país da relação, a Nigéria, fez 4.435 testes por cada milhão de habitantes. O Brasil, que está longe de ser o país que mais testou sua população, o que nos leva a duvidar dos números brasileiros, considerando-os sub informados*, fez 134.000 testes para cada milhão de habitantes. Os EUA fizeram 743.200 testes por cada milhão. Ou seja: para 332 milhões de habitantes, eles testaram cerca de 247 milhões (sempre existe a possibilidade de alguma duplicação do teste, pois uma mesma pessoa pode ter necessitado de dois ou mais testes por motivos pessoais). 

A Etiópia, o segundo da lista, tem na realidade 116 milhões de habitantes, bem mais do que o informado aqui e testou cerca de 15 mil por cada milhão de habitantes. 

O país com maior números de infectados na África é a África do Sul e que possui uma população de cerca de 60 milhões de habitantes, fez 108 mil testes por milhão, quase o mesmo que o Brasil. A África do Sul tem um milhão de infectados e 26 mil mortos. 

Eis o site da John Hopkins: https://coronavirus.jhu.edu/ 

Aqui matéria da BBC, em inglês, a qual lista cinco possíveis razões pelas quais o covid-19 pode ter sido menos mortal na África: 

1 - Ação Rápida dos governos (eles lidam com infecções mortais muito mais que os outros países do mundo); 

2 - Apoio Popular (creio que populações que enfrentam problemas de saúde constantemente possuem mais medo, pois sabem como isso pode afetá-los. E pode ser que tenham governos mais responsáveis com relação a isso). Considerando dados de 18 países, eles tiveram cerca de 85% de apoio da população nas medidas de segurança;

3 - População Jovem - Diz a matéria que 91% das infecções foram em pessoas abaixo dos 60 anos e mais de 80% dessas infecções foram assintomáticas. "We have [in Africa] about 3% of the population aged over 65 years," sad Dr Matshidiso Moeti, the WHO (Organização Mundial da Saúde em sua sigla em inglês) Africa head.- "Nós temos cerca de 3% da população com idade superior a 65 anos", diz o Dr. Matshidiso Moeti, que está à frente da Organização Mundial da Saúde no continente; 

4 - Clima Favorável; 

5 - Bons Sistemas Comunitários de Saúde a matéria diz que isso, em muitos casos, se refere também aos preparativos para enfrentamento do Ebola e outras infecções. Na Nigéria, a Dra. Rosemary Onyibe, que tem trabalhado com o programa de erradicação da polio, afirma que imediatamente eles passaram a usar a estrutura contra a polio no combate e na prevenção do covid-19. "Assim que ouvi as notícias, eu instantaneamente pensei: o trabalho está chamando. Minha experiência é necessária para servir minha comunidade".

Como tenho repetido várias vezes, as informações estão aí, em toda parte, cabe a nós procurarmos por elas e duvidarmos de tudo o que nos é entregue bem empacotado e cheiroso. E, honestamente, já estamos (para usar um termo da moda) vacinados e certas mentiras já conseguimos detectar de longe.

* Hoje foi informado que o número de óbitos brasileiros pode estar abaixo da realidade em 60.000. Só isso. Então, ao invés de 196 mil mortos (números de 04/01/21, com dados ainda não fechados), teríamos cerca de 256 mil. 

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